Doença da vaca louca: entenda os riscos envolvidos

O setor pecuário é essencial para a economia brasileira, afinal, o país é destaque no cenário de exportação de carne bovina, movimentando aproximadamente 13 bilhões de dólares no ano de 2022, segundo a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). Por isso, a fim de assegurar a continuidade desses excelentes resultados, é fundamental que se mantenha a sanidade do gado, adotando barreiras específicas para doenças de alto poder infeccioso.

Uma das doenças mais preocupantes nesse contexto é a Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), popularmente conhecida como mal da vaca louca, já que se trata de uma patologia altamente infecciosa e com alto poder de transmissão. Após o primeiro caso detectado no Reino Unido em 1986, devido à gravidade da doença, os mercados mundiais consumidores de carne bovina seguem atualizando constantemente os requisitos para garantir a sua inocuidade.

Ainda assim, recentemente, foi relatado um caso suspeito da doença em bovino em território brasileiro, ressaltando a necessidade de entender melhor o que é o mal da vaca louca, seus riscos, sintomas e protocolos preventivos. Continue lendo e mantenha-se informado sobre esse assunto que está em destaque atualmente.

O que é a doença da vaca louca?

Conforme abordamos no início, “mal da vaca louca” é o nome popular dado para a Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB). Trata-se de uma doença degenerativa que ataca o sistema nervoso central do animal, levando-o à morte. O agente causador da EEB é um príon, uma proteína infecciosa que vai acometendo as demais proteínas presentes no cérebro, provocando a morte do indivíduo. Vale ressaltar que existe grande semelhança entre essas estruturas em ruminantes e humanos.

Quais são as causas da doença da vaca louca?

Como mencionamos acima, a doença é causada por um príon que, ao contrário do que muitos imaginam, não se trata de um ser vivo capaz de reproduzir-se, mas sim de uma partícula proteica infecciosa. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a causa mais comum da doença da vaca louca é a mutação sofrida por essas proteínas.

A doença em sua forma atípica (espontânea) atinge principalmente o gado mais velho, enquanto a sua forma clássica geralmente afeta os animais mais jovens.

Segundo informativo técnico da DPA, com essa mutação, dá-se origem à forma anormal do príon (PrP) que afeta os príons normais, acumulando-se nas células do sistema nervoso central e ocasionando a doença. A infecção pode se manifestar de duas formas:

Clássica: príon de massa molecular considerada padrão. Na forma clássica, os bovinos são infectados por receberem produtos de origem animal, gerando riscos aos humanos que eventualmente consumirem a carne desses animais.Atípica: príon de massa molecular alta (EEB atípico tipo H) ou baixa (EEB atípico tipo L). Nesse caso, os bovinos mais velhos desenvolvem espontaneamente a proteína atípica que atinge o sistema nervoso central, não gerando riscos de disseminação ao rebanho ou humanos.

Vale ressaltar que a forma clássica é a mais preocupante, já que foi essa a identificada em 1986 no Reino Unido, sendo a atípica, consequentemente, a menos gravosa.

Leia também: Doenças respiratórias em bezerros: confira como prevenir.

Origem e transmissão da doença

Segundo estudos existem duas linhas de pensamento para determinar a origem da EEB no Reino Unido:

A primeira tem relação com a oferta de ração com alto teor de proteína animal oriunda de rebanhos de ovelhas. O seu processo de fabricação sofreu algumas alterações, como a mudança na temperatura e a eliminação de alguns solventes da preparação. Resultado disso foi a ativação dos príons que infectavam as ovelhas e, por consequência, a contaminação massiva dos rebanhos que consumiram essa ração;Já a segunda linha defende que houve uma mutação no gene que origina o príon. Alguns estudiosos acreditam que, de alguma forma, o príon age como material genético transmitindo informações que alteram as proteínas normais, tornando-as príons de alto potencial infectante.

De qualquer modo, a forma clássica de transmissão da doença no rebanho é por meio do consumo de alimentos de origem animal contaminados com o EEB, como é o caso da farinhas de carne e/ou ossos utilizada como suplemento proteico na alimentação do gado.

Importante ressaltar também que a infecção pode ocorrer com a inoculação do agente de forma iatrogênica, isto é, quando o príon infeccioso entra em contato com áreas muito inervadas e lesionadas por meio de cirurgias.

Sintomas da doença da vaca louca

Os sintomas observados com maior frequência na doença são:

Dificuldade para andar;Tremores musculares;Mudanças de comportamento, como: isolamento, medo e agressividade;Mortalidade do animal em 100% dos casos.

Muito embora ainda não seja possível fechar diagnóstico com a identificação de sintomas neurológicos, é bastante simples perceber esses sintomas no indivíduo.

Infelizmente, ainda não existe tratamento para a doença da vaca louca, sendo necessária a realização de testes post mortem em material encefálico, com coletas de amostras do sistema nervoso central e realização de exame histológico seguido de técnica imuno-histoquímica.

Confira também: Você sabe o que é creep feeding para gado de corte? Descubra!

Transmissão da doença da vaca louca

Para que exista a transmissão da doença, basta que haja a ingestão de menos de um grama de material infectado, ou seja, alimentos que contenham proteínas e gordura animal. Dessa forma, ainda que a concentração de proteína de origem animal ofertada aos ruminantes seja mínima, o risco de contaminação é alto.

Atualmente, a OIE classifica o Brasil como país com risco “insignificante” da doença, enquanto certos países da Europa apresentam classificação de “risco controlado”, sendo a mais grave delas o “risco desconhecido”. A fim de dar continuidade a esse quadro, segundo a Instrução Normativa 8/2004 do MAPA, é proibido alimentar ruminantes com com alguns produtos de risco, como a farinha de ossos e/ou carne e resíduos da criação de aves e suínos (espécies imunes a doença).

É importante frisar que a EEB é uma zoonose que se enquadra no grupo das encefalopatias espongiformes transmissíveis (EET) e pode afetar os seres humanos de maneira letal, ocasionando a Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ).

Como prevenir a doença da vaca louca?

No Brasil são adotadas medidas internacionais de controle da doença. Para tanto, foi instituído o Comitê Científico do MAPA para Encefalopatias (CEET) que, aliado à Secretaria da Agricultura Pecuária, Pesca e Agronegócio (SEAPPA), visa a realização de medidas de prevenção para EEB pelo Serviço Veterinário Oficial (SVO). São elas:

Controle de movimentação e proibição do abate de bovinos importados de países de risco para EEB;Vigilância no abate de emergência e remoção de material de risco específico para EEB (frigoríficos de abate com selos de inspeção federal);Remoção de material de risco específico para EEB, quando identificados;Fiscalização constante de estabelecimentos com produtos alimentares para animais e seus subprodutos, bem como de propriedades e criatórios de bovinos.

Por se tratar de um assunto de extrema importância, o MAPA exerce a função de barrar, controlar e fiscalizar todas as atividades que envolvem a criação de bovinos.  

Além disso, os países exportadores de carne também apresentam protocolos sanitários exigentes, fazendo o constante controle de qualidade da carne de acordo com o estabelecido pela OIE.

Vale frisar ainda que a vigilância para a EEB é direcionada para qualquer bovino de idade superior a 24 meses que demonstre alterações neurológicas. Nesses casos, o animal será considerado suspeito em potencial da doença e deverá ser submetido a diagnósticos diferenciais.

Veja também: Clostridioses em bovinos: entenda mais e aprenda a evitar!

Impacto econômico da doença e contexto mundial

Os primeiros casos da doença desencadearam rapidamente a epidemia na Europa, afetando aproximadamente 180 mil cabeças de gado e ocasionando o sacrifício de mais de 4 milhões de animais. No entanto, o impacto não se limitou aos pecuaristas, atingindo também as indústrias e o comércio, o que gerou um prejuízo de cerca de 2,5 bilhões de dólares.

Como se não bastassem tamanhas perdas, desde 1995, ano em que foi identificada a doença, a EEB (variante Doença Creutzfeldt-Jakob) ocasionou a morte de 178 pessoas no Reino Unido.

Placa em memória às vítimas da variante da EEB – Doença Creutzfeldt-Jakob (vCJD) – em Londres.

Apesar de nunca ter sido uma doença de risco aos rebanhos do Brasil, a enfermidade já constituiu motivo de conflitos comerciais com países como Canadá, Estados Unidos, México e China que, inclusive, já vetaram a entrada de carne bovina brasileira.

Segundo a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), a última notificação da doença em sua forma clássica é de 2010, na Holanda, mostrando que, mesmo com todos os cuidados e restrições, existe a possibilidade de novos casos.

Risco da doença da vaca louca no Brasil

A doença da vaca louca não é contagiosa e não há evidências de transmissão horizontal ou vertical entre animais. A sua infectividade é restrita ao tecido do sistema nervoso central e outros, como as tonsilas e placas de Peyer.

Considerando esse aspecto, a farinha de ossos e/ou carne é altamente perigosa, pois não existe controle sobre todos os seus componentes. Outro fator de risco de desenvolvimento de EEB são os restos da criação de aves e suínos, já que são alimentados com produtos derivados de origem animal. Exemplo disso é a cama de frango.

Em contrapartida, a alimentação dos rebanhos brasileiros baseia-se principalmente na oferta de grãos ou proteínas vegetais, como a soja e o milho, reduzindo consideravelmente o risco de desenvolvimento da doença. Mesmo assim, é importante conhecer todos os aspectos da doença e ficar atento aos principais sinais clínicos.

Caso recente

Atualmente, a doença da vaca louca está em foco, já que um novo caso foi identificado no estado do Pará. O animal doente era um macho de 9 anos, criado a pasto, em uma fazenda com aproximadamente 160 cabeças de gado. A Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará realizou exame que positivou para a doença, mas lançou nota afirmando que acredita tratar-se de um caso atípico da doença, não representando risco de contaminação para o rebanho ou seres humanos.

O animal foi abatido e sua carcaça incinerada, e a propriedade inspecionada e interditada preventivamente. Nenhum outro animal apresentou sintomas relacionados à doença. Com o fim de confirmar o diagnóstico, uma amostra foi enviada a um laboratório de referência da instituição no Canadá que confirmará nos próximos dias se o caso é atípico ou clássico. Seguindo protocolo sanitário oficial, o Brasil suspendeu temporariamente as exportações de carne bovina à China.

Confira o vídeo abaixo com as notícias mais recentes:

Créditos: Jovem Pan News.

Conclusões

Portanto, conforme abordado, a doença da vaca louca é extremamente perigosa e letal, causando riscos não só aos animais, mas também aos seres humanos, podendo prejudicar grandemente os setores de saúde e econômico do país. Por esse motivo, é imprescindível que sejam adotadas medidas sanitárias do rebanho, cuidando da alimentação dos animais e respeitando os protocolos exigidos.

Nesse sentido, é importante ressaltar que o MAPA criou um comitê para a revisão das normas de controle e erradicação do mal da vaca louca, dando o exemplo à você, pecuarista, para que busque conhecimento e constante atualização a fim de atingir uma produtividade de alto nível.

Gostou desse artigo? Então aproveite e leia mais sobre as 7 causas de morte súbita em bovinos. Boa leitura!

O post Doença da vaca louca: entenda os riscos envolvidos apareceu primeiro em MF Magazine.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *