O conceito de ESG, apesar de relativamente recente, tem ganhado cada vez mais atenção das empresas, consumidores e do mercado financeiro. ESG (Envaironmental, Social and Governance) é uma sigla que significa “condições ambientais, sociais e de governança corporativa”, constituindo um guia de boas práticas empresariais que avalia a aderência das empresas à questões sociais, éticas e sustentáveis.
Atualmente, devido à velocidade da propagação das informações e ao enfretamento de diversas problemáticas sociais e ambientais, a adoção de práticas ESG nas atividades empresariais tornou-se mais que um diferencial moral e sim um requisito para se estabelecer no mercado diante da concorrência.
Neste artigo, vamos abordar o que é ESG, a sua importância para o setor, bem como dicas de como implementá-lo no agronegócio. Confira!
Histórico e conceito de ESG
ESG é a sigla mais conhecida da atualidade no mundo corporativo e vai muito além do conceito amplamente adotado pelo setor privado e organizações não governamentais (ONGs) de práticas empresariais sustentáveis, abrangendo também as questões sociais e de governança. Diante de problemáticas que estão em alta, como desigualdade social, mudanças climáticas e avanço da inteligência artificial, as empresas têm sido cada vez mais cobradas a respeito do seu posicionamento nessas questões.
E é nesse contexto que entra a figura dos “stakeholders“, ou seja, todas as pessoas que são afetadas e afetam os negócios de uma empresa de forma direta ou indireta: fornecedores, consumidores, investidores, Estado, Organizações Internacionais ou da sociedade civil. É para eles que o foco das atividades empresariais se voltou, superando o antigo interesse de agradar apenas os acionistas (“shareholders“).
Nasce então a figura do “capitalismo de stakeholders“, conceito que traduz os novos objetivos corporativos de estabelecer valores e posicionamentos da empresa a curto, médio e longo prazos. Assim, a obtenção de lucro passa a ser apenas uma parte das metas empresariais, sendo complementada com as práticas ESG que dizem respeito à cada uma das letras da sigla:
Ambientais (Environmental): inclui políticas de diminuição de emissão de carbono, gestão de recursos naturais, poluição, eficiência energética, entre outros;Sociais (Social): refere-se às questões de diversidade, empregabilidade, condições de trabalho, relações entre funcionários e empresa etc;Governança corporativa (Governance): abrange os princípios da transparência, equidade, prestação de contas, ética e responsabilidade corporativa.
Atualmente, o foco das empresas foi direcionado aos stakeholders que são todas as pessoas envolvidas na atividades empresarial, desde os consumidores até os investidores.
A primeira menção relevante ao termo ESG se deu no ano de 2004 no relatório elaborado pelo Pacto Global, chamado “Who Cares Wins“, que tratou com maior cuidado sobre questões ambientais e sociais no aspecto corporativo. Até o momento, a nomenclatura utilizada para atividades voluntárias empresariais era “responsabilidade social corporativa” (corporate social responsability).
Portanto, ESG é o conjunto de boas práticas adotadas pelas empresas visando impactar positivamente o meio ambiente, estimular o desenvolvimento social dentro e fora do local de trabalho, bem como garantir a eticidade e a integridade das operações das atividades empresariais. Hoje, essas práticas superam a esfera de transformação social e ambiental, constituindo estratégias de sobrevivência corporativa.
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Importância do ESG para o agronegócio
A cobrança com relação à adoção de práticas ESG já é uma realidade em todos os setores econômicos, sendo feita tanto por parte dos consumidores quanto pelos investidores. No setor agropecuário essa cobrança ocorre com ainda mais intensidade, já que está diretamente ligado ao meio ambiente.
O agronegócio é uma das atividades econômicas que mais cresce no Brasil, responsável por 24,8% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano de 2022. No entanto, o setor ainda enfrenta alguns desafios em práticas sustentáveis, como: produzir mais gastando menos e preservando os recursos naturais, adoção de boas práticas de manejo, integração lavoura-pecuária-floresta, uso de biológicos, rotação de culturas, redução da emissão de carbono, entre outros.
Apesar desses desafios, o setor rural têm buscado se adequar à essa nova realidade e apresentado resultados promissores. Exemplo disso são os dados fornecidos pela Embrapa que constataram que os agricultores preservam mais vegetação nativa no interior de suas propriedades do que todas as unidades de conservação juntas, correspondendo 20,5% e 13%, respectivamente.
No que tange às questões sociais, é preciso adotar algumas práticas importantes, como: adequação do meio ambiente de trabalho, adoção de medidas de equidade entre colaboradores, promoção de boas relações de trabalho, bem como a garantia da empregabilidade. Nesse último quesito, o agronegócio apresentou ótimas estatísticas. Segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), o setor agropecuário gerou mais de 113 mil empregos formais entre os meses de janeiro e maio de 2021, o maior número desde 2012.
A empregabilidade é um dos aspectos sociais envolvidos nas práticas ESG e o agronegócio tem apresentado bons resultados nesse quesito.
Existem ainda as boas práticas de governança corporativa que objetivam gerar confiança nos stakeholders internos e externos, preservando a longevidade das atividades e otimizando o valor econômico da empresa a longo prazo. De acordo com pesquisa realizada pela ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio) sobre os principais desafios para a competitividade do Agronegócio, cerca de 80% dos participantes relataram ser esse o principal gargalo do setor, logo atrás da infraestrutura.
Por isso, é importante trabalhar esses aspectos para tornar o setor cada vez mais aderido às diretrizes ESG, tendo em vista que o mercado está focado em investir em negócios sustentáveis e socialmente responsáveis. A implementação dessas práticas proporciona não só a competitividade das empresas do agronegócio no mercado, mas também atrai investidores, clientes e ainda confere acesso à créditos governamentais, conforme veremos a seguir.
Vantagens de implementação de práticas de ESG
As empresas que adotam as práticas de ESG melhoram a sua reputação perante o mercado, alcançando um desempenho financeiro superior às demais. No entanto, as vantagens relacionadas à sua adoção vão muito além. Vamos elencar aqui as principais delas:
Aumenta a autoridade da empresa: cada vez mais os investidores estão interessados em empresas que demonstram boa performance em questões ESG. Isso ocorre devido à autoridade que essas empresas geram no mercado, ficando menos vulneráveis a riscos à sua reputação e apresentando resultados financeiros melhores e mais estáveis. Além disso, também atrai pessoas que pretendem investir em empresas com os mesmos valores sociais e éticos que defendem.Competitividade no mercado: empresas que demonstram compromisso com as práticas ESG geram mais confiança e relacionamentos mais sólidos com os consumidores, funcionários e demais stakeholders. Pesquisas apontam, inclusive, que os clientes se mostram dispostos a pagar mais por produtos sustentáveis ou provenientes de empresas que estejam comprometidas com essa visão.
Além disso, a exigência internacional por produtos agrícolas que provenham de práticas mais sustentáveis é outro fator que demonstra a importância do conceito ESG para a expansão da competitividade das empresas no mercado.
Dentre as vantagens de aderir às práticas ESG está o aumento da competitividade da empresa no mercado, já que gera mais confiança nos relacionamentos com os stakeholders.Redução dos riscos: a adoção dessas práticas prepara as empresas para enfrentarem riscos ambientais, sociais e de governança, com planos de contingência aliados ao monitoramento e avaliação periódicas destes.Retorno financeiro: as empresas que se comprometem com as questões relacionadas ao ESG conseguem melhorar a sua rentabilidade a longo prazo. Isso se dá por meio de 4 fatores: crescimento da receita (atração de consumidores e investidores), aumento da produtividade dos colaboradores (adoção de políticas internas de equidade e manutenção de condições adequadas de trabalho), otimização de recursos (utilização de tecnologias que proporcionam a otimização da produção) e redução de custos (produzir mais gastando menos);Captação de bons profissionais: a preocupação com temas sustentáveis e sociais, além de atrair profissionais qualificados que desejam trabalhar em empresas com os mesmos princípios e valores que adotam, contribui também para a sua retenção.Acesso a recursos: empresas que investem em ESG podem participar de programas governamentais que dão acesso à linhas de crédito especiais, apoiando o crescimento e desenvolvimento do negócio.
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Dicas de como implementar ações ESG no agronegócio
A integração de ações ESG nas operações de empresas que atuam no setor agropecuário é fundamental para alinhar as expectativas do mercado com as atividades negociais, gerando valores financeiros e interesse dos consumidores. Desse modo, elencamos algumas dicas para nortear a implementação dessas práticas no seu agronegócio.
Estabelecer metas e objetivos claros
É importante estabelecer metas específicas para que a empresa oriente seus esforços ao alcance dos resultados pretendidos. Por exemplo, estipular objetivos para reduzir a emissão de carbono, melhorar a eficiência energética ou mesmo investir em políticas de inclusão e equidade no ambiente corporativo.
No entanto, essas metas devem ser conhecidas por todos, tanto no ambiente de trabalho quanto no relacionamento com investidores e clientes, para que sejam fiscalizadas e avaliadas regularmente, constatando a evolução da empresa em direção aos seus objetivos.
Incorporar as práticas ESG em suas cadeias produtivas
Todas as etapas da cadeia de produção, preferencialmente, devem estar alinhadas às práticas de ESG, inclusive os fornecedores. Procurar fortalecer as relações com fornecedores que compartilham dos mesmos valores, incentivando-os a melhorar as suas práticas e implementando auditorias e avaliações para que esses objetivos sejam alcançados. Além disso, deve-se verificar se todas as questões que dizem respeito aos produtos e serviços da empresa também estão sendo tratadas da mesma forma.
Desenvolvimento e participação em programas de responsabilidade social e ambiental
O desenvolvimento e a participação em programas ambientais e sociais ou mesmo parcerias estratégicas com organizações sem fins lucrativos atribui autoridade, confiança e, consequentemente, retorno financeiro às empresas. Atualmente, o posicionamento nesse sentido não é mais uma estratégia moral, mas sim de competitividade, pois mostra a todos que a empresa está contribuindo positivamente para o sociedade e o meio ambiente.
Alguns aspectos que podem ser trabalhados nessas esferas:
Ambiental: redução do consumo de energia, políticas ambientais, uso racional da terra, gestão de recursos naturais, gestão de resíduos sólidos e insumos químicos, investimento em bioinsumos, reflorestamento, entre outros;Social: questões de engajamento de funcionários, saúde e segurança no trabalho, gestão do capital humano, empregabilidade, filantropia corporativa, gestão responsável de pessoas, diversidade, equidade no ambiente de trabalho etc.
A participação em programas ambientais e o investimento em parcerias estratégicas gera autoridade na imagem da empresa e atrai consumidores e investidores que se identificam com os mesmos propósitos.
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Estabelecer práticas de gestão de riscos
A implementação de práticas de gestão de riscos incluem a verificação, avaliação e adoção de planos de ação contra riscos ambientais, sociais e de governança corporativa. No caso do agronegócio, os riscos ambientais são ainda mais acentuados, já que a atividade depende diretamente de fatores climáticos para que seja bem-sucedida.
Lidar racionalmente com esses riscos, implementando planos de contingência e fazendo o monitoramento e avaliações periódicas confere mais segurança às atividades realizadas.
Adotar posicionamentos éticos e íntegros
Um dos pontos mais importantes entre os elencados é o estabelecimento de uma cultura de integridade nas operações da empresa. Falhas éticas causam um impacto significativo na reputação de uma empresa, podendo ser irreversível em algumas situações.
Por isso, é fundamental que sejam firmados princípios éticos e claros, de modo a alinhar os funcionários com os valores e objetivos da empresa e expectativas do mercado, demonstrando responsabilidade por suas ações e assumindo os riscos de suas operações. Além disso, desenvolver um plano de contingência para lidar com esses riscos é essencial.
Investir em comunicação e transparência
A adoção das práticas descritas acima não surtirá efeitos se não houver comunicação por parte da empresa. Essa comunicação deve ser abrangente, direta e objetiva, fornecendo informações precisas a respeito das suas operações e esclarecendo as dúvidas e preocupações dos stakeholders. Desse modo, eles poderão avaliar o desempenho das atividades da empresa, construindo um relacionamento de confiança e garantindo que as medidas que se comprometeu a tomar estão sendo cumpridas.
Conclusões
Apesar das grandes corporações do Agronegócio já incorporarem o ESG em seus negócios, ainda é preciso fazer a integração do pequeno e médio produtor à essa realidade. Conforme já tratamos, atualmente, essas práticas são essenciais para a sobrevivência e competitividade das empresas no mercado e, por isso, é necessário um trabalho de conscientização no setor para atrair cada vez mais incentivos e demonstrar que a sustentabilidade, a responsabilidade social e a perenidade das atividades empresariais caminham lado a lado.
O Brasil é um dos países que mais tem a ganhar com a implementação de boas práticas ESG no agronegócio, já que está entre os líderes mundiais em produção agropecuária, podendo aumentar ainda mais a confiança, credibilidade e rentabilidade nos mercados interno e externo.
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