Você conhece os principais tipos de percevejo que podem afetar a sua lavoura?

Identificação e rápido reconhecimento podem ser a diferença entre o sucesso e insucesso do controle de percevejos na sua lavoura. Confira como reconhecer rapidamente e quais são as principais estratégias de controle!

Os percevejos podem afetar inúmeras espécies de plantas, sendo elas de interesse agrícola, ou até mesmo daninhas. Podem ser causar danos em diferentes fases de desenvolvimento das culturas, porém, na fase reprodutiva, afetam a qualidade da produção.

Embora existam inúmeras espécies de percevejos considerados praga, ou seja, que causam danos aos cultivos agrícolas, a lista dos principais percevejos inclui três espécies principais: o percevejo-marrom, o percevejo-barriga-verde e o percevejo verde pequeno. Esses percevejos causam danos em culturas importantes como a soja, milho, algodão, trigo, entre outras.

E engana-se quem pensa que o controle dos percevejos é igual para todas as espécies. Por isso, a importância do reconhecimento rápido de qual espécie de fato está ocorrendo na lavoura.

Você sabe diferenciar quais os principais tipos de percevejos? Não? Então continue a leitura e saiba as principais características de cada uma das espécies para um controle mais assertivo!

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Principais tipos de percevejo

Os percevejos são insetos considerados fitófagos, ou seja, se alimentam a partir da sucção de nutrientes de plantas, principalmente de grãos. Devido a esse comportamento alimentar, afetam diretamente o rendimento e a qualidade dos alimentos produzidos. Os danos provocados incluem:

murcha ou má formação dos grãos e vagens;maturação desuniforme, fazendo com que as folhas permaneçam verdes no momento de colheita, dificultando essa operação.

O ciclo de vida dos percevejos é variável, a depender da espécie, hospedeiro, condições climáticas e região de cultivo. De forma geral, o ciclo de vida dos percevejos possui três fases: a fase de ovo, ninfa (composta por cinco estádios ou ínstares), e fase adulta. 

Principais percevejos da soja

Para a cultura da soja, os principais percevejos são os percevejos pentatomídeos (da família Pentatomidae), considerados sugadores de grãos. Os percevejos que ocorrem na soja colonizam as plantas próximo ao final do período vegetativo ou durante a floração, que compreende os estádios R1 e R2.

Dessa maneira, logo após o aparecimento das primeiras vagens (R3), os percevejos iniciam a sua reprodução na cultura da soja, aumentando rapidamente a sua população. Mas é no período de desenvolvimento e enchimento de grãos que a população de percevejos atinge altos níveis, causando danos consideráveis.

É no período reprodutivo, portanto, que a cultura da soja é mais suscetível ao ataque dos percevejos.  

Danos em grãos de soja provocados pelos percevejos em decorrência da introdução do seu aparelho bucal nas vagens, atingindo os grãos. Foto: Ávila et al., 2019.

Percevejo-marrom (Euschistus heros)

Um dos principais percevejos que afetam a soja é o percevejo-marrom (E. heros). Essa espécie apresenta corpo de cor marrom-avermelhada e é encontrada em diferentes estádios de desenvolvimento e crescimento da lavoura de soja.

O percevejo-marrom causa prejuízos por meio da sucção da seiva, que pode ocorrer em todas as partes da planta. Um fator agravante é o comportamento do inseto, que injeta toxinas durante a alimentação, resultando em retenção foliar e consequentemente problemas na colheita.

As fêmeas do percevejo-marrom ovipositam os ovos nas folhas, que possuem coloração amarela, e os adultos podem viver até 300 dias, sendo em média de 116 dias de vida. 

Possuem coloração marrom uniforme, e até 11 mm de comprimento. O seu abdômen possui coloração verde.

Aspecto visual do percevejo-marrom da soja, principal espécie que causa danos à cultura. Foto: Melo, 2019.

A principal época que o percevejo-marrom pode ser encontrado nas lavouras de soja é entre os meses de novembro a abril, produzindo até três gerações em um único ano agrícola.

Tem como principais plantas hospedeiras o algodão, girassol, pastagens e soja, podendo afetar ainda inúmeras outras espécies de plantas. 

Para essa espécie, o Comitê de Ação à Resistência a Inseticidas (IRAC) recomenda manejo específico de inseticidas, tendo em vista que a espécie já apresenta relatos de resistência e perda de eficiência aos inseticidas utilizados no manejo.

Percevejo-verde (Nezara viridula)

Outra espécie considerada chave é o percevejo-verde (N. viridula)

Essa espécie de percevejo possui corpo verde de aspecto brilhante e se alimenta dos grãos de soja em fase de enchimento de grãos, podendo acarretar em danos econômicos consideráveis, não somente na produtividade da cultura, como também na qualidade. 

Aspecto visual do percevejo-verde. Foto: Pereira, 2016.

O agravante dessa espécie é que, ao contrário do percevejo marrom, pode ser encontrado nos cultivos durante todos os meses do ano, principalmente em regiões com temperaturas mais amenas. Quando a infestação ocorre em áreas destinadas à produção de sementes, pode resultar em descaracterização dos campos.

Se reproduz em plantas de cobertura como o nabo, guandu, trigo, soja, girassol, entre inúmeras outras culturas de interesse agrícola e daninhas.

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Percevejo-barriga-verde (Dichelops furcatus) e percevejo verde pequeno (Piezodorus guildinii)

Enquanto o percevejo-barriga-verde possui corpo achatado e de coloração verde na parte inferior quando adulto e castanho-avermelhado na parte superior, com manchas escuras no abdômen, o percevejo verde pequeno possui coloração e aspecto semelhante, na fase ninfal e adulto, de coloração verde, no entanto, como o seu próprio nome já diz, apresenta tamanho reduzido.

Aspecto visual do percevejo-barriga-verde: a. ninfa em 5º estádio e b. adulto, e ao lado direito, o percevejo verde pequeno. Foto: Pereira et al., 2007.

O tempo entre a fase de ovo e adulto do percevejo-barriga-verde é em torno de 36 dias em condições favoráveis, como temperatura de 25ºC. Já o ciclo total de vida é entre 84 e 112 dias (podendo ser variável a depender do hospedeiro e das condições ambientais).

Já o ciclo de vida do percevejo verde pequeno está retratado no esquema abaixo:

Ciclo de vida do percevejo verde pequeno da soja. Fonte: Panizzi et al., 2012.

Principais percevejos do milho

No caso do milho, as três principais espécies que causam danos são as mesmas da soja, sendo no entanto, o percevejo-marrom a espécie mais danosa à cultura – os danos causados por essa espécie são cerca de três vezes mais acentuados.

Um único percevejo de qualquer uma dessas espécies pode causar danos em até seis plantas de milho, geralmente em plantas dispostas uma ao lado da outra em fileiras.

Para o milho, o período crítico de incidência de percevejos compreende desde a emergência da cultura até o estádio V5 (caracterizado a cinco folhas completamente expandidas). 

Podem causar danos à cultura ainda durante a fase inicial de desenvolvimento, até quando os colmos atingem 0,8 cm de diâmetro.

Danos causados pelo percevejo em folhas de milho em estádio vegetativo. Foto: Marucci et al., 2020.

Como a maioria dos inseticidas age sobre esses insetos após a ingestão do inseticida junto aos tecidos das plantas, para o milho é necessário o monitoramento para verificar o nível populacional na lavoura antes mesmo da semeadura, uma vez que embora o tratamento de sementes seja uma alternativa aos percevejos, isoladamente não é eficaz.

Principais percevejos do algodão

No caso do algodão, assim como para o milho, o percevejo-marrom, o percevejo-verde e o percevejo verde pequeno são as principais espécies que afetam a cultura. 

Essas espécies podem afetar os botões florais, causando a sua deformação, atrofiamento e até mesmo a abscisão. Já as maçãs do algodoeiro têm seu desenvolvimento comprometido com pontuações internas e deformações com formato característico, conhecidas como “maçãs bico-de-papagaio”. 

Além disso, ocorre crescimento demasiado de ramos e os capulhos apresentam manchas nas fibras, evoluindo a podridões, reduzindo assim a produtividade e qualidade das fibras produzidas.

Características das principais espécies de percevejos que atacam as culturas agrícolas.

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Controle de percevejos

No controle de percevejos é importante adotar uma abordagem integrada, que envolva a união de diferentes métodos de controle, como o manejo integrado de pragas (MIP). 

As estratégias do MIP incluem o controle cultural, genético, químico e biológico (quando disponível). É necessário verificar a compatibilidade entre o controle biológico e químico, geralmente indicado pelo fabricante.

Controle genético

No controle genético, o uso de cultivares resistentes ao ataque dos percevejos, quando disponíveis, pode auxiliar no combate dos percevejos, reduzindo significativamente os danos causados por esses insetos.

Controle cultural

No controle cultural pode ser utilizada a rotação de culturas, utilizando espécies que não sejam hospedeiras à espécie de percevejo que está ocorrendo na área de produção. 

O manejo adequado de restos culturais, remoção de plantas daninhas e a manutenção de um ambiente favorável aos inimigos naturais dos percevejos também são consideradas estratégias importantes no manejo dessas pragas.

Controle biológico

Pode ser realizado por meio da preservação de habitats naturais que preservem e possibilitem a sobrevivência e reprodução dos inimigos naturais dos percevejos

No entanto, para isso, é necessário observar quais inseticidas serão utilizados no controle químico, uma vez que algumas moléculas, especialmente de amplo espectro, podem interferir na dinâmica populacional desses organismos. 

A inserção de parasitóides e predadores de percevejos também são estratégias eficazes no controle da população desses insetos, no entanto, deve ser bem planejada para evitar incompatibilidade com inseticidas químicos por exemplo, quando estes também forem utilizados na lavoura.

Alguns exemplos de inimigos naturais que podem ser utilizados no controle de percevejos incluem Telenomus podisi, Hexacladia smithi, Ectophasiopsis sp., Gymnoclytia sp., e Cylindromyia sp.

Telenomus podisi parasitando ovos dos percevejos a. E. heros e b. D. melacanthus. Fonte: Corrêa-Ferreira; Sosa-Gómez, 2017.

Inseticidas para o controle de percevejos

O controle químico é uma das principais medidas de controle de percevejos, no entanto, como abordado anteriormente, precisa ser realizado de forma conjunta a outras estratégias, principalmente visando o manejo antirresistência. 

Nesse sentido, rotacionar os modos de ação dos inseticidas, bem como utilizar misturas ou rotações de diferentes mecanismos de ação podem auxiliar no manejo, evitando a perda de eficiência dos inseticidas utilizados na lavoura.

Os inseticidas registrados e recomendados pelo Ministério da Agricultura (MAPA), podem ser consultados diretamente no Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários (AGROFIT). É importante que sejam utilizados inseticidas registrados para o alvo, ou seja, para a espécie de percevejos, bem como para a cultura de interesse.

Conclusão

Os percevejos podem causar problemas consideráveis às culturas de interesse agrícola. As maiores problemáticas envolvidas no controle desses insetos é o fato de serem polífagos, ou seja, causarem danos em diversas culturas, como o milho, soja, algodão, trigo, cultivadas em sucessão, o que favorece a sobrevivência e reprodução desses insetos durante todo o ano nas lavouras.

Por isso, a adoção de estratégias de controle é fundamental e deve ser baseada no MIP, tendo em vista que as culturas da soja, milho e algodão são afetadas pelas principais espécies de percevejos.

Cultivos sucessivos de soja-milho, soja-algodão, dentre outras combinações, e ausência de monitoramento e de controle de plantas daninhas são condições que favorecem a sobrevivência, reprodução e disseminação dos percevejos na lavoura.

O controle dos percevejos é baseado no monitoramento, principalmente quando as fases críticas ao ataque dos percevejos ocorre nas fases iniciais de desenvolvimento das culturas.

O uso de inseticidas deve ser estratégico e assertivo, baseado na observação do histórico da área de cultivo, bem como na espécie e planta hospedeira. Consulte sempre um Engenheiro Agrônomo para a melhor recomendação para o histórico e necessidades da sua lavoura!

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