As plantas daninhas são um dos fatores limitantes aos cultivos agrícolas, desde culturas produtoras de grãos, como soja, algodão, milho, trigo, até culturas hortifruti, ornamentais, florestais, entre outras e, quando não manejadas, podem levar a perdas produtivas que ultrapassam os 90%.
Em grãos, as perdas médias em produtividade podem chegar até 15%, mesmo com controle. Isso porque as plantas daninhas podem produzir sementes que permanecem no banco de sementes, no interior do solo, viáveis por longos anos.
Assim, quando as condições ambientais são favoráveis, as sementes produzidas emergem, competindo por luz, nutrientes, espaço e água. As plantas daninhas podem, ainda, causar efeitos alelopáticos sobre as culturas, devido a produção de substâncias tóxicas, e serem hospedeiras alternativas de pragas e doenças, reduzindo o potencial produtivo das espécies vegetais.
Para o controle das plantas daninhas, diversas estratégias podem ser utilizadas. Entre elas, o controle químico com uso de herbicidas. Um dos principais herbicidas utilizados de Norte a Sul do país é o herbicida glifosato.
Continue a leitura e entenda o que é o glifosato, como ele age nas plantas daninhas e nas plantas cultivadas, quais plantas daninhas ele controla e como realizar o manejo antirresistência de plantas daninhas na sua lavoura.
O que é glifosato?
O glifosato é um herbicida pós-emergente, sistêmico (absorvido pelas plantas), e não seletivo para as culturas em condições normais. No entanto, a partir da introdução dos cultivos transgênicos resistentes ao herbicida, como a soja, passou a ser amplamente utilizado no manejo de daninhas nas lavouras.
O uso contínuo e como método principal de controle, sem rotação de ingredientes ativos, acabou gerando problemas de controle, reduzindo a eficácia do herbicida e registrando diversos relatos de resistência em diversas regiões do Brasil e do mundo.
O glifosato pode ser utilizado no manejo de invasoras, em cultivos transgênicos, em pré-semeadura e na pós-emergência da cultura, desde que a mesma seja resistente ao herbicida.
O herbicida glifosato tem sido amplamente utilizado em cultivos de soja transgênica para controle de plantas daninhas.
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Como o glifosato age?
A molécula do herbicida glifosato é composta por grupos funcionais carbonila, amina e fosfonato.
Devido à característica quelante de metais pelas diferentes cargas iônicas da molécula, o herbicida pode resultar em imobilização de nutrientes no solo e nas plantas, ou seja, bloqueia a capacidade das plantas de absorver os nutrientes disponíveis no solo, levando a sua morte.
A ação do glifosato nas plantas invasoras leva entre 7 e 14 dias, a depender das condições ambientais e das espécies que foi aplicado.
Quais plantas daninhas o glifosato controla?
A lista de plantas daninhas controladas pelo glifosato é extensa, no entanto, cabe ressaltar que diversas espécies já apresentaram perda de sensibilidade à essa molécula. Isso ocorreu em função da ampla utilização, sem o manejo antirresistência, alicerçado principalmente na rotação de ingredientes ativos (com mecanismos de ação distintos).
Vale ressaltar que a depender do fabricante do herbicida, a lista pode sofrer pequenas alterações, por isso, é indispensável que essa seja consultada na íntegra.
Algumas espécies que podem ser controladas com o herbicida glifosato:
Plantas infestantes anuais:
Folhas estreitas:Aveia (Avena sativa);Capim-marmelada (Brachiaria plantaginea);Capim-carrapicho (Cenchrus echinatus);Capim-colchão (Digitaria horizontalis);Capim-arroz (Echinochloa crusgalli);Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica);Azevém (Lolium multiflorum);Arroz-vermelho (Oryza sativa);Milheto (Pennisetum americanum).Folhas largas: Picão-preto (Bidens pilosa);Buva (Conyza bonariensis);Leiteira/Amendoim-bravo (Euphorbia heterophylla);Corda-de-viola (Ipomoea grandifolia);Guanxuma anual (Sida rhombifolia).
Plantas infestantes perenes:
Folhas estreitas:Braquiarão/braquiária-brizanta (Brachiaria brizantha);Capim-braquiária (Brachiaria decumbens);Grama-seda (Cynodon dactylon);Tiririca (Cyperus rotundus);Capim-amargoso (Digitaria insularis);Capim-colonião (Panicum maximum);Capim-massambará (Sorghum halepense);Cana-de-açúcar (Saccharum officinarum) – eliminação de soqueira.Folhas largas: Flor das Almas/Maria Mole (Senecio brasiliensis);Guanxuma (perenizada).
Também pode ser utilizado em pós-emergência de culturas e plantas infestantes resistentes ao glifosato (soja e milho):
Monocotiledôneas:Capim-braquiária (Brachiaria decumbens);Capim-marmelada (Brachiaria plantaginea);Capim-colchão (Digitaria horizontalis);Trapoeraba (Commelina benghalensis).Dicotiledôneas:Amendoim-bravo/Leiteira (Euphorbia heterophylla);Caruru (Amaranthus viridis);Picão-preto (Bidens pilosa).
Como aplicar o glifosato?
O herbicida glifosato pode ser aplicado de diferentes formas:
Em culturas convencionais (não modificadas geneticamente para resistência ao glifosato): antes da semeadura das culturas anuais ou perenes, cultivadas sob sistema plantio direto (SDP) ou cultivo mínimo;por meio da aplicação dirigida na entrelinha, evitando com que as plantas perenes entrem em contato com o herbicida.Em culturas de soja e/ou milho, geneticamente modificadas, ou seja, resistentes ao glifosato, após a emergência das plantas daninhas e das culturas. Nessas situações pode ser aplicado uma única vez ou em aplicação sequencial (a depender da recomendação do fabricante e da espécie daninha alvo).
O glifosato pode ser aplicado após a emergência em cultivares resistentes, como a soja RR.
A aplicação pode ser realizada por pulverização terrestre ou aérea. No entanto, é importante manter-se atento ao fato que essa molécula pode causar fitotoxidez aguda em diversas espécies, por isso, é indispensável que se utilize da tecnologia de aplicação, bem como do bom senso, para que cultivos vizinhos não sejam prejudicados.
Em caso de comprovação de danos a cultivos próximos (com plantas que não sejam geneticamente modificadas, como frutíferas e até mesmo cereais de inverno), o responsável pode ser acionado e responsabilizado, tendo que vir a arcar com os prejuízos causados.
É importante destacar ainda que para o manejo antirresistência e para melhor efetividade do herbicida, a aplicação deve ser realizada em estádios iniciais de desenvolvimento, embora, para diversas espécies, possa ser aplicado até em estádios reprodutivos das daninhas.
Veja também: Dinâmica de herbicida em palhada de Sistema Plantio Direto (SPD)
Como funciona a resistência ao glifosato?
A diminuição da capacidade de absorção e movimentação do glifosato está relacionada à resistência de certos tipos de plantas daninhas, como o capim-branco e o capim-amargoso no Brasil, o sorgo de alepo na Argentina e a buva nos Estados Unidos e no Brasil.
Além disso, foi constatado que, no caso da buva, houve um aumento no metabolismo dessas plantas. Também foi observada uma conexão positiva entre os níveis de resistência e o aumento do acúmulo de glifosato nas células vegetais do azevém resistente no Brasil, Chile, Austrália e Itália.
Mais informações sobre relatos de resistência de plantas daninhas aos herbicidas, incluindo o glifosato, podem ser conferidas diretamente no Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas (HRAC).
Na imagem a seguir, é possível entender como ocorre a ação de um herbicida em plantas daninhas sem resistência (1), e os principais mecanismos de resistência a herbicidas (2).
Rota de herbicidas após a aplicação e possíveis mecanismos de resistência. Fonte: In: Pinho et al., 2022. Adaptado de Délye et al., 2013.
Cuidados na aplicação de herbicidas
Para evitar a perda de eficiência dos herbicidas no controle de plantas daninhas, algumas boas práticas podem e devem ser utilizadas.
Segundo o Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas (HRAC), as boas práticas agrícolas indispensáveis para o manejo antirresistência, que visam prolongar a vida útil dos herbicidas, incluem:
manter as áreas agrícolas com plantas de cobertura na entressafra;começar o cultivo no limpo, sem a presença de plantas daninhas;identificar corretamente as espécies presentes na área, e observar como elas têm se comportado após a aplicação de herbicidas;utilizar herbicidas pré-emergentes, com ação antes da emergência das plantas daninhas;rotacionar mecanismos de ação sempre que possível (medida fundamental);utilizar a dose e número de aplicações conforme recomendação do fabricante.
Outras recomendações podem ser visualizadas na imagem a seguir:
Fonte: HRAC, 2023.
Conclusão
Como vimos, o glifosato é um herbicida seletivo para culturas geneticamente modificadas, como algumas cultivares de milho e soja, e tem ação sobre uma gama de espécies daninhas anuais, perenes, de folhas estreitas e largas.
Com a ampla utilização nas últimas décadas, passou a apresentar limitação de controle para algumas espécies, como a buva, o azevém, entre outras.
Para manutenção e prolongação da vida útil dos herbicidas, incluindo o glifosato, algumas boas práticas agrícolas são fundamentais.
Entre elas a rotação de mecanismos de ação e a adoção do manejo integrado de plantas daninhas (MIPD), que visa associar outras estratégias de manejo como implantação de plantas de cobertura na entressafra, semeadura sob sistema plantio direto, uso de sementes certificadas, entre outros, são indispensáveis.
Sendo as plantas daninhas limitantes à produção agrícola, o seu controle é fundamental, assim como a adoção de um manejo consciente, e isso depende de todos nós!
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