Quando se fala em pragas agrícolas, é comum pensarmos em lagartas, percevejos e ácaros, e uma das pragas que vem à mente é o pulgão!
Isso ocorre porque o pulgão é um inseto com um alto poder de destruição. Ele ataca as mais diversas culturas agrícolas, desde espécies frutíferas, como os citros, até hortaliças como alface e melão, e plantas de lavoura, como algodão, trigo, cevada, triticale, aveia, milho, soja e cana-de-açúcar.
Os pulgões são insetos que se multiplicam com muita rapidez e podem causar sérios danos às plantas. Por esse motivo, antes que eles se espalhem por toda a lavoura, é fundamental realizar o controle.
Neste artigo, vamos abordar as características dos principais tipos de pulgão e conhecer recomendações para combatê-los. Confira!
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O que é o pulgão?
Os pulgões, também conhecidos como afídeos, são insetos pequenos que medem de 1,5 a 3,0 mm, de corpo mole, com antenas longas e tonalidade que varia entre amarelo claro, verde, marrom ou preto.
Estes insetos pertencem à família Aphidiae e, atualmente, estão registradas mais de 1,5 mil espécies de pulgões. Eles estão distribuídos nas mais diversas condições de temperatura, mas conseguem se multiplicar com mais facilidade em condições de altas temperaturas e baixa precipitação.
Os pulgões são perigosas pragas agrícolas que prejudicam as culturas por sugarem a seiva das plantas, liberar toxinas que afetam seu crescimento, além de transmitir viroses. Portanto, as plantas jamais se desenvolvem bem quando tem pulgões atacando elas.
Quais as características do pulgão
Dependendo da espécie, os pulgões podem apresentar características morfológicas muito distintas, principalmente com diferentes colorações. Mas o que eles têm em comum é o tamanho, que não passa de 5 milímetros.
O pulgão pode variar de coloração entre amarelo palha, verde translúcido (um pouco transparente), preto ou vermelho.
Seu corpo é mole e de formato ovoide na fase adulta, sem separação entre a cabeça e o tórax. Possuem pernas, antenas, sifúnculos (apêndices abdominais) e uma cauda, a codícula. O aparelho bucal é do tipo picador-sugador.
Aspecto geral de um pulgão. Fonte: Guimarães et al., 2019.
Os pulgões também podem ou não apresentar asas, sendo chamados de ápteros (sem asas) ou alados (com asas). Estes últimos são responsáveis pela distribuição da espécie na cultura, para outras culturas e plantas espontâneas.
Os pulgões alados apresentam dois pares de asas membranosas e transparentes, com uma borda espessa e alguma mancha, sendo as dianteiras muito maiores que as traseiras.
Ilustração de um pulgão adulto áptero (sem asas) e alado (com asas). Fonte: UNESP.
Como os pulgões afetam as lavouras
A preocupação com o pulgão é maior durante a primavera e o verão pois, como vimos, a praga se multiplica mais com o calor.
O inseto entra na lavoura por dispersão de áreas próximas, ou por meio de materiais vegetais contaminados. Normalmente, ele se aloja na parte de baixo das folhas, em ramos e em folhas jovens, e o ataque acontece inicialmente em reboleiras.
Os danos ocasionados pela infestação de pulgões podem ser divididos em diretos e indiretos, sendo eles:
Danos diretos: observados quando existe grande quantidade de ninfas (forma jovem da praga), ou adultos do inseto que, ao sugarem a seiva e injetarem toxinas nas plantas, acabam causando a queda precoce das folhas e o seu definhamento, ou seja, a sua perda de vigor;Danos indiretos: também acontecem quando o inseto se alimenta, porém estão relacionados à transmissão de vírus, ou seja, atuam como vetores de doenças.
Além disso, muitas espécies de pulgões liberam uma substância açucarada, chamada de “henoeydew”. Essa substância é grudenta e causa prejuízos, pois favorece o desenvolvimento do fungo que forma a fumagina.
A fumagina não ataca as plantas, mas recobre a sua superfície com uma camada preta, impedindo a planta de fazer fotossíntese, afinal elas não conseguem absorver adequadamente a luz.
Essa camada de cor preta também provoca aumento da absorção de radiação solar, o que pode causar a queima das folhas e, consequentemente, a sua queda.
Aspecto visual da fumagina em planta de soja. Fonte: Simone S. Vieira.
De forma geral, os danos causados pelos pulgões incluem:
Perda de vigor;Amarelecimento, malformações e redução da produtividade (por causa da atuação como praga sugadora, que retira os nutrientes da planta);Encarquilhamento (tecidos retorcidos e menores, malformados);Morte de plantas jovens;Formação de fumagina;Injeção de toxinas;Transmissão de vírus.
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Por que os pulgões se espalham tão rapidamente?
Os pulgões se espalham rapidamente devido ao seu ciclo biológico e à sua alta capacidade de multiplicação. O ciclo é bastante curto, no geral, podendo acontecer o surgimento de uma nova geração da praga a cada semana.
Um pulgão vive, em média, 20 dias, dependendo da espécie. Quando os pulgões encontram uma temperatura ideal para a sua multiplicação, que é em torno de 18 a 25°C, a fêmea pode dar origem a cerca de 70 a 80 novos pulgões, com média de até 10 novos insetos por dia.
Durante o seu ciclo biológico, ao eclodirem os ovos, o pulgão passa pelo estágio de ninfa, que dura em torno de cinco dias. A ninfa apresenta quatro instares, ou seja, estágios de desenvolvimento antes de se tornar adulto. Neste estágio, elas são muito parecidas com o pulgão adulto, porém de coloração mais clara e tamanho menor.
A fase adulta do pulgão, que compreende os períodos de reprodução e pós-reprodução, varia em torno de 15-25 dias. O tempo exato pode variar em função da espécie, da temperatura do ambiente, da cultura e até mesmo da cultivar.
Como os pulgões atacam as lavouras?
Inicialmente, os pulgões atacam as lavouras em reboleiras. Normalmente, surgem na área pela dispersão de insetos alados (tipo que apresenta asas) que vêm de outras áreas contaminadas.
Após a sua multiplicação, dispersam-se por toda a lavoura. Por isso, devemos ficar atentos aos sintomas logo no início, antes que eles se espalhem.
Além da identificação do inseto nas plantas, principalmente na parte de baixo das folhas, nos galhos e folhas novas, devemos ficar atentos aos sintomas nas plantas, que incluem:
Formação de camada escura sobre as folhas;Folhas deformadas, com formato arredondado e bordas viradas para baixo;Ponteiros atrofiados;Plantas com desenvolvimento reduzido e crescimento retardado.
Principais tipos e formas de controle dos pulgões
Quando falamos em tipos de pulgão, existem dois grupos distintos que são classificados pelos seus hábitos alimentares:
Monófagos: são os pulgões que se alimentam de plantas que pertencem à mesma família;Polífagos: são os pulgões que se alimentam de várias culturas.
A seguir, vamos conhecer a classificação de acordo com a preferência de cada subtipo pelas culturas.
Pulgão do algodoeiro e do meloeiro
O Aphis gossypii é um pulgão polífago, que ataca principalmente o algodoeiro, mas também pode atacar outras culturas, como o meloeiro, e mais 700 outras espécies.
O inseto mede em torno de 1,3 mm e tem coloração que varia do amarelo-claro ao verde escuro.
É uma das pragas sugadoras que mais prejudica as plantas de algodoeiro, causando danos diretos pela sucção da seiva e injeção de toxinas, e danos indiretos pela formação de fumagina. A fumagina compromete a qualidade da fibra do algodão, reduzindo seu valor comercial.
Incidência de pulgões na folha e na flor de algodoeiro. Fonte: UNESP.
Essa praga causa grandes preocupações, pois sua capacidade de reprodução é muito grande, espalhando-se rapidamente. Além disso, estes pulgões ocorrem na forma alada e áptera.
Os insetos alados surgem à medida que as populações crescem muito, então eles voam para buscar alimento em outras plantas.
Os sintomas observados nas plantas são folhas com aspecto enrugado, enrolado ou encarquilhado, e brotos deformados. Além disso, os pulgões transmitem viroses para o algodoeiro, como o vermelhão e o mosaico das nervuras.
O primeiro passo para realizar o controle é monitorar a cultura para saber o momento ideal de controle. Deve-se observar as folhas do ponteiro e brotos novos desde a fase inicial da cultura.
O controle deve ser realizado quando forem visualizados 12 ou mais pulgões por folha, pois caracteriza uma colônia, e não deve ultrapassar 10% de plantas com colônias. Ou seja, se a cada 10 plantas analisadas, uma apresentar uma colônia, o controle deve ser iniciado imediatamente.
A principal forma de controle do pulgão-do-algodoeiro é o uso de inseticidas sistêmicos específicos, principalmente produtos dos grupos químicos das sulfonamidas, neonecotinoides, piretroides e organofosforados. A relação com os produtos registrados está disponível no site do Agrofit.
Outras práticas de manejo incluem a eliminação de restos culturais e de plantas daninhas hospedeiras do pulgão, utilização de cultivares resistentes, e uso de cobertura do solo com material repelente ao pulgão.
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Pulgão da espiga
O Stobion avenae também é um pulgão polífago que tem preferência pelas gramíneas, e ataca principalmente as espigas das culturas do trigo, aveia, cevada, centeio e triticale.
É uma das principais pragas da cultura do trigo, pois suga a seiva das folhas e da base das espiguetas, diminuindo o número de espigas e de grãos por espiga, reduzindo, assim, a produtividade das plantas.
Além disso, compromete o desenvolvimento das plantas pela formação de fumagina, e transmite viroses para a cultura hospedeira, como o Vírus do Nanismo Amarelo da Cevada (VNAC).
O inseto pode surgir logo após a emergência da cultura e, embora possa ocorrer em baixa densidade no afilhamento, aparece em maior número nas folhas, junto com o pulgão-da-folha, preferindo instalar-se nas espigas.
Pulgão-da-espiga (Stobion avenae) adulto e colônia de pulgões sobre folha de aveia. Fonte: Paulo Pereira; Embrapa.
Para o controle dessa praga, também deve ser feito um monitoramento semanal. Se 10% das plantas observadas estiverem infestadas com 10 pulgões por espiga, você deve realizar o controle.
Esse controle pode ser biológico ou químico. O controle biológico é efetuado pelo patógeno Ethomophthora sp. O controle químico deve ser realizado com inseticidas registrados para a cultura. É importante ressaltar a escolha de inseticidas seletivos para os inimigos naturais do pulgão-da-espiga.
Os inseticidas indicados são dos grupos dos neonecotinoides, feniltioureia, inorgânicos precursores de fosfina, ésteres de ácidos graxos, organofosforados e piretroides. O tratamento de sementes também evita danos causados por essa praga.
Pulgão do milho
O Rhopalopsiphum maidis é mais um pulgão polífago, e pode ser observado no sorgo, cevada, aveia, milheto, triticale, trigo e soja. Por esse motivo, é considerado um grande problema em cultivos de sucessão soja-milho, milho-soja ou trigo-soja.
No milho, ele ataca as partes jovens da planta, como o cartucho e as gemas florais, mas pode atacar também o pendão. Dessa forma, a praga causa necrose foliar e má formação das espigas.
No entanto, o principal dano está relacionado com a transmissão do vírus do mosaico, que pode ocorrer com qualquer quantidade de insetos na área.
Colônia de pulgão-do-milho (Rhopalopsiphum maidis) em planta de milho. Fonte: Julia Bolaños, 2020.
O controle do pulgão-do-milho só é necessário quando forem observados mais de 100 insetos por planta.
Esse controle pode ser feito preventivamente, com o tratamento de sementes e eliminação de plantas hospedeiras, e também pelo controle biológico, com o uso de inimigos naturais.
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Pulgão verde
O Myzus persicae também é polífago, e causa danos em várias culturas, principalmente soja e algodão.
Os danos causados por essa praga incluem deformação e encarquilhamento das folhas, além da transmissão de viroses.
Adulto de pulgão-verde (Myzus persicae) áptero e alado. Fonte: Miguel Michereff Filho, 2019.
O controle do pulgão-verde pode ser feito com o uso de inimigos naturais ou com inseticidas. Para o controle químico, é importante verificar os produtos registrados para o controle da cultura em questão.
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Como evitar os pulgões?
É muito importante que o combate aos pulgões na lavoura seja realizado com base no MIP (Manejo Integrado de Pragas). O MIP é um conjunto de medidas adotadas para manter as pragas abaixo do nível de dano econômico.
Dessa forma, somente quando a população de pulgões atinge uma quantidade com potencial de causar prejuízos, é feito o controle. Para isso, é fundamental o monitoramento constante da lavoura, de preferência semanalmente.
Como vimos no artigo, existem várias práticas que podem ser adotadas no combate ao pulgão, e a definição da mais adequada depende da espécie em questão e do nível de infestação.
Cabe destacar que, caso o controle químico seja adotado, é fundamental rotacionar grupos químicos e princípios ativos dos inseticidas para evitar o surgimento de insetos resistentes e a perda da eficiência dos produtos.
Conclusão
Os pulgões são pragas importantes que atacam diversas culturas. Eles causam danos diretos, pela sucção da seiva e injeção de toxinas, e indiretos, pela transmissão de viroses.
Em função da sua multiplicação, tomam conta da lavoura muito rapidamente. Por isso, é muito importante realizar o monitoramento semanal das plantas para não deixar que essa praga consiga trazer prejuízos à produtividade.
Realize o monitoramento, utilize o MIP e verifique os produtos registrados para a cultura em questão. Com esses cuidados, o pulgão será combatido com eficiência!
E então, gostou desse conteúdo? Leia mais sobre a cochonilha, como identificar os principais tipos, os danos causados e como fazer o controle. Boa leitura!
O post Pulgão na lavoura: aprenda a identificar e controlar essa praga apareceu primeiro em MF Magazine.