Qualquer cultivo agrícola está suscetível ao surgimento de diversas doenças, que podem ocorrer em alguma fase do desenvolvimento ou até mesmo durante todo o seu ciclo.
Uma doença muito conhecida e que ataca diversas culturas, é o míldio. O míldio pode não causar perdas muito significativas para algumas culturas, mas para outras, como a videira, é a doença de maior importância no Brasil.
Mesmo não sendo tão nocivo para culturas como a soja, por exemplo, as perdas podem chegar a 14%.
Por isso, é importante estar preparado para evitar prejuízos, e o primeiro passo é entender como essa doença funciona e saber identificá-la para fazer um controle eficiente. Confira!
Saiba o que é o míldio
O míldio é uma doença que se desenvolve na parte aérea das culturas, atacando principalmente as folhas, mas também pode ocorrer em ramos e frutas. Os agentes causadores do míldio são fungos chamados de oomicetos.
Dentre os diversos gêneros de oomicetos que podem causar o míldio, estão o Plasmopara, Peronospora, Bremia, Sclerospora e outros.
Os sintomas do míldio começam com manchas de coloração verde-claro e amareladas na parte superior das folhas e, em seguida, com o avanço da doença, essas manchas se tornam escuras (necróticas).
Na parte de baixo da folha, os sintomas surgem como se fosse um mofo branco, os chamados “algodõezinhos”. Isso acontece pois o patógeno emite as suas estruturas reprodutivas para fora da folha, geralmente através dos estômatos. Estas estruturas são disseminadas pelo vento e pela água e contaminam outras plantas.
Como a doença provoca essas manchas nas folhas, isso prejudica a fotossíntese da planta, o que pode afetar o seu rendimento.
Folhas de videira com manchas amareladas e secas na parte superior, e com mofo branco na parte de baixo da folha, causados por Plasmopara viticola (míldio da videira. Fonte: Embrapa Uva e Vinho.
Quais as condições favoráveis para o míldio?
O míldio se desenvolve muito bem em condições de temperatura na faixa de 20°C e alta umidade. Períodos longos de molhamento foliar, em torno de 12 horas, são ideais para o desenvolvimento da doença.
A doença pode ser causada por meio do uso de sementes ou mudas contaminadas, essa é a principal forma de disseminação, mas também pode ser trazida pelo vento.
É importante lembrar que o míldio sobrevive em tecidos vivos. Portanto, no caso de plantas que entram em dormência, como a videira, os oósporos, que são a estrutura de reprodução e disseminação do fungo, permanecem nas folhas senescidas sobre o solo e nas gemas dormentes, até que sejam disseminados pelo vento ou água.
Sob condições ambientais favoráveis, o fungo completa seu ciclo em apenas quatro dias!
Um fator que causa a predisposição à doença, ou seja, que torna a planta suscetível caso ocorra a presença do patógeno, é o desequilíbrio nutricional, pois prejudica a capacidade de defesa das plantas.
O Míldio na soja
O míldio da soja é causado pelo fungo Peronospora manshurica, e é considerado uma doença de pouca importância econômica na cultura. Porém, vem ocorrendo com maior frequência nas últimas safras, gerando perdas na produção que podem chegar a 14%.
O míldio está distribuído em quase todas as regiões produtoras de soja do mundo. No Brasil, a doença foi relatada no Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins.
A doença entra na lavoura de soja através de sementes contaminadas com o fungo. Se houver restos culturais contaminados na superfície do solo, assim que a semente germinar, entra em contato com o fungo e coloniza a plântula.
Casos de maior severidade estão associados à grande ocorrência de chuvas, intenso molhamento foliar e temperaturas mais elevadas (17 a 22°C à noite e pela manhã, e calor à tarde).
Com relação aos danos que o míldio causa nas plantas de soja, a doença tende a reduzir a capacidade fotossintética da planta, resultando em prejuízos no crescimento vegetativo, o que reflete em danos à produção.
Além disso, o fungo infecta as vagens, podendo provocar deterioração das sementes ou causar danos que resultam em coloração bege a castanho-claro do tegumento, o que deprecia o produto.
As sementes infectadas, além de terem menor peso, irão contaminar a plântula a partir da sua germinação.
O míldio pode ocorrer em qualquer fase do desenvolvimento da soja, mas os danos são mais severos se a doença ocorrer nos estádios iniciais, ainda no período vegetativo.
Lesões amareladas na parte superior da folha de soja, causado por Peronospora manshurica, que prejudicam a realização de fotossíntese pela planta; e lesões semelhantes a mofo branco na parte de baixo da folha. Fonte: Daren Mueller; Elevagro.
Controle e manejo
Na soja, a própria planta consegue se proteger do míldio, se elas estiverem bem nutridas e desenvolvidas, pois à medida que as plantas crescem e engrossam, o fungo já não consegue penetrar nelas.
Vamos conhecer outras formas de manejo e controle:
Utilização de sementes certificadas;Utilização de variedades resistentes;Semeadura com espaçamento e densidade de plantas adequados à cultura, para proporcionar um bom arejamento entre as plantas;Correção e adubação do solo;Controle químico para o tratamento de sementes e aplicação de fungicidas.
O míldio do sorgo
O míldio do sorgo é causado pelo patógeno Peronosclerospora sorghi. Os danos causados por esta doença nas lavouras de sorgo podem chegar a 80%, caso sejam utilizadas cultivares suscetíveis e haja condições favoráveis ao desenvolvimento da doença.
Problemas com o míldio do sorgo se tornam ainda mais sérios, pois a doenças está distribuída em todas as regiões de cultivo do país!
Na região Sul do país, o sorgo é a segunda doença de maior importância, ficando atrás apenas da antracnose.
O míldio pode infectar a planta de sorgo de duas formas: localizada e sistêmica. Vamos entender melhor cada uma delas:
Forma de infecção localizada: os esporos do fungo infectam as folhas das plantas, causando lesões necróticas em formato retangular. Em condições úmidas e frias, surgem manchas semelhantes a mofo branco na parte de baixo das folhas. Se o patógeno atingir o meristema (ponto de crescimento da planta), podem surgir sintomas sistêmicos.Forma de infecção sistêmica: ocorre quando o patógeno invade as células do meristema apical. As plantas jovens apresentam sintomas de clorose e enfezamento, formando faixas de coloração verde-claro e amarelo, intercaladas pela coloração normal da folha. Da mesma forma que na localizada, sob condições ideais, na parte de baixo da folha surgem manchas semelhantes a mofo branco. As plantas podem tornar-se estéreis e não produzirem grãos ou morrer prematuramente.Sintomas sistêmico (acima) e localizado (abaixo) de míldio em plantas de sorgo. Fonte: Alexandre Ferreira Silva.
Medidas de manejo e controle:
Uso de variedades resistentes (método mais eficiente para prevenir o míldio no sorgo);Uso de sementes certificadas;Rotação de culturas com espécies que não sejam hospedeiras da doença (evitar, principalmente, o milho, pois é hospedeiro do míldio);Destruição dos restos culturais;Manejo da época de semeadura (antecipar em locais de alta incidência da doença);
Quanto ao controle químico, até o momento não existem produtos certificados para o controle do míldio na cultura do sorgo, seja para o tratamento de sementes ou para aplicação foliar.
Por isso, é muito importante focar nas medidas de manejo e controle acima citadas!
Míldio na videira
Esta é a doença mais importante da videira no Brasil! Em condições favoráveis, pode provocar perdas de até 75% da produção.
É causada pelo fungo Plasmopara vitícola, o qual pode infectar todas as partes verdes da planta, com danos mais severos quando ocorre nas flores e nos frutos.
Nas folhas, os sintomas iniciais são pequenas manchas de coloração verde claro, encharcadas e translúcidas na parte de cima da folha, essas manchas têm um aspecto oleoso se forem observadas contra a luz. Com o desenvolvimento da doença, elas se tornam mais escuras e podem causar a queda das folhas.
Na parte de baixo das folhas, onde se encontram as manchas, surgem pontos com estruturas esbranquiçadas, semelhantes à mofo branco.
Nos ramos, as manchas têm um aspecto encharcado, e são rapidamente cobertas pelas estruturas esbranquiçadas.
Nos cachos, o míldio provoca a queda das flores e a podridão das bagas (frutos), por isso é uma doença que causa tantos prejuízos para a cultura.
Controle e manejo
Para evitar que a doença cause grandes prejuízos, o controle do míldio deve ser feito de forma preventiva, incluindo alguns aspectos:
Uso de variedades resistentes;Plantio com espaçamento adequado, para facilitar o arejamento;Realização de podas para proporcionar bom arejamento e reduzir a umidade no ambiente;Controle químico preventivo (ainda na brotação) com fungicidas sistêmicos, intercalados com produtos de contato à base de cobre.
A calda bordalesa é um dos produtos mais antigos utilizados para o controle de fungos, porém ainda é muito eficiente no controle do míldio.
Lembre sempre de usar somente produtos registrados para a cultura, e com recomendação técnica.
Míldio da alface
Na cultura da alface, o míldio (Bremia lactucae) pode provocar perdas superiores a 80%, sendo uma das principais doenças da cultura.
O míldio pode ocorrer em qualquer fase do ciclo de cultivo da alface, e é favorecido por condições de alta umidade.
Os danos vão desde perdas na produção, até prejuízos com a qualidade e o valor do produto colhido.
Uma vez instalada na área de cultivo, a doença é difícil de controlar e possui alto potencial destrutivo.
Os sintomas iniciais surgem nas folhas mais velhas, com manchas amareladas que têm, inicialmente, aspecto angular, ou seja, se formam entre as nervuras. Posteriormente, estas manchas se tornam necróticas, pardas, e se observa esporulação branca na parte de baixo das folhas.
Sintoma inicial e avançado de míldio em alface. Fonte: Tofoli, Domingues e Ferrari (2017).
Manejo e controle
Para o manejo e controle do míldio em alface, é recomendado utilizar diversas estratégias, tais como:
Uso de cultivares resistentes (método mais prático, eficiente e com maior retorno econômico);Evitar irrigações excessivas e ao final da tarde, para reduzir a umidade;Aumentar o espaçamento entre plantas;Evitar o cultivo em áreas de baixada ou sujeitas ao acúmulo de água;Remoção das plantas doentes ao final do ciclo;Rotação de culturas, evitando o plantio de alface por vários anos na mesma área;Utilização de mudas sadias;Pulverizações de produtos químicos preventivos e pulverizações foliares.
Existem poucos produtos químicos registrados para o uso em alface. No entanto, os produtos protetores à base de mancozeb e captan são interessantes, pois formam uma película protetora sobre a superfície foliar. Por esse motivo, devem ser utilizados na ausência de sintomas da doença.
Conclusão
O míldio é uma doença fúngica que pode atacar diversas culturas e, em algumas, causar grandes prejuízos.
O clima ideal para o desenvolvimento do míldio é aquele com altas temperaturas e alta umidade relativa do ar.
Em algumas culturas, como a soja, uma boa nutrição das plantas pode fazer com que a própria planta se proteja do míldio, e não sofra danos severos.
Em outras culturas, como o sorgo, a videira e o alface, devem ser tomadas medidas combinadas para ter sucesso no controle do míldio, pois o manejo químico, apenas, não evitará a ocorrência de sérios prejuízos.
Agora que você tem essas informações, não deixe que esta doença se instale no seu cultivo e cause danos na sua lavoura.
Gostou desse conteúdo? Então aproveite e leia também nosso artigo sobre a macha-alvo: sintomas e formas de controle. Boa leitura!
O post Míldio: conheça os sintomas e as formas de controle apareceu primeiro em MF Magazine.