O picão-preto (Bidens pilosa) é uma planta daninha que está presente em praticamente todo o território brasileiro e causa muitos prejuízos à produção agrícola, justamente por sua alta capacidade de propagação.
De acordo com levantamento da Embrapa, as altas infestações por picão-preto podem causar quebras de até 30% na produtividade, além de também ser hospedeira de fungos, nematoides e vírus.
Sendo assim, neste artigo você terá acesso às principais informações sobre o picão-preto, como identificá-lo, suas características, quais prejuízos causa, além de maneiras de eliminá-lo. Confira!
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O que é picão-preto e como identificar?
O picão-preto pertence à família Asteraceae e tem origem na América Tropical. É a espécie do gênero Bidens que apresenta destaque em todo o mundo, já que é uma planta daninha bastante agressiva. A denominação Bidens pilosa é originária do latim: bidens significa “dois dentes” e refere-se às projeções do aquênio e pilosa diz respeito à presença de pelos nas brácteas.
Essa planta daninha está presente em mais de 30 culturas e em pelo menos 40 países, principalmente na América do Norte e do Sul e na África. Apresenta ampla disseminação nos campos agrícolas, já que possui características de rusticidade na produção de propágulos, uso eficiente dos recursos naturais (água e nutrientes), e adaptação às condições edafoclimáticas.
No Brasil, o picão-preto pode ser encontrado em todo o território, sendo mais presente nas áreas agrícolas da região Centro-Sul, com presença praticamente constante durante todas as épocas do ano.
O picão-preto é uma planta daninha que interfere no processo produtivo e compete pelos recursos com outras culturas.
De acordo com a literatura, o picão-preto é definido como uma planta daninha por prejudicar direta ou indiretamente determinada atividade humana, interferindo no processo produtivo e competindo pelos recursos e condições do meio.
Além disso, ainda libera substâncias alelopáticas e atua como hospedeiro de pragas, doenças e nematoides, como é o caso do nematoide das galhas (Meloidogyne goeldi), Meloidogyne javanica, Meloidogyne mayaguensi e pulgões.
Características do picão-preto
Também conhecido como picão ou carrapicho, o picão-preto é uma planta herbácea, ereta, de ciclo anual e com altura entre 20 e 150 cm. A plântula apresenta caule ereto, ramificado, de superfície lisa e coloração verde, podendo apresentar estrias ou manchas vermelho-amarronzadas, com ou sem presença de pelos.
As suas folhas são pecioladas opostas no caule e ramos, formato ovalado ou lanceolado e coloração verde ou até mesmo violáceas. Podem ocorrer também folhas simples ou compostas, com até 8 cm de comprimento e 4 cm de largura, com margens serreadas, com ou sem pelos.
Quanto às flores, estas são em forma de botões, normalmente nas cores branca ou amarela. Já as sementes possuem tamanho variável, cor negra fosca, finamente rugosas e pontilhadas, com duas ou três aristas na parte apical.
Reprodução
A sua reprodução se dá exclusivamente por sementes e possui desenvolvimento rápido e ciclo curto, com capacidade de produzir até 3 gerações por ano. Em condições tropicais, a planta pode ser encontrada o ano todo.
Apresenta formação intensa de sementes, podendo chegar a até 3.000 por planta, mas poucas delas têm germinação imediata, já que apresenta latência das sementes devido ao fenômeno de dormência. Isso permite a sobrevivência e a viabilidade das sementes em condições adversas extremas.
As sementes de picão-preto apresentam germinação mesmo com a ausência de luz, no entanto, a água é fundamental para que isso ocorra. O melhor intervalo de temperatura para a germinação é entre 20º a 35ºC e à profundidade de até 2 cm. Quando a profundidade supera os 10 cm, as sementes podem ficar dormentes por anos.
A reprodução do picão-preto se dá exclusivamente por sementes, podendo produzir até 3 gerações por ano.
Competição com outras culturas
O picão-preto, por apresentar desenvolvimento em altas densidades nas áreas cultivadas, representa grande competitividade para outras culturas. A sua agressividade se deve, principalmente, à sua profusa e longa produção de aquênios, o que permite a sua alta capacidade de sobrevivência nos ecossistemas.
Ele concorre diretamente com os nutrientes que são empregados nas lavouras, sendo capaz de acumular grandes quantidades de nitrogênio, fósforo e micronutrientes. Além disso, essa planta daninha é amplamente conhecida por sua alta capacidade de extrair água do solo, embora não seja muito eficiente na aplicação desse recurso.
Ademais, ela é capaz de liberar substâncias alelopáticas pelas suas raízes, ou seja, substâncias químicas que afetam o crescimento e desenvolvimento de outras plantas, pragas e patógenos, aumentando ainda mais a sua capacidade competitiva.
Em resumo, algumas das características que fazem do picão-preto uma planta daninha agressiva são:
Ciclo curto;Grande produção de sementes (aquênios);Adaptação do propágulo reprodutivo, permitindo maior leveza e aderência a animais e tecidos;Grande deposição de fitomelanina, que protege o pericarpo e diminui injúrias e/ou predação;Elevado potencial no acúmulo de nutrientes como nitrogênio e fósforo;Atração e/ou repulsão de microrganismos devido à liberação de compostos pelas raízes;Alta densidade tricomática, baixa densidade estomática e alto teor de cera epicuticular, que agem como barreiras à entrada de herbicidas.
Controle do picão-preto
Para realizar o controle do picão-preto utiliza-se, geralmente, o método químico com a aplicação de herbicidas, já que a eliminação mecânica dessas plantas daninhas, com o revolvimento do solo, pode trazer à superfície sementes que estão em condições de germinar. No entanto, existem biótipos dentro da espécie Bidens pilosa que apresentam graus de resistência a alguns herbicidas.
O método mais utilizado para o controle de picão-preto é o químico, por meio de herbicidas.
Diante disso, vamos apresentar algumas das boas práticas que são utilizadas no controle do picão-preto, inclusive para evitar a sua resistência a herbicidas. São elas:
Rotação de mecanismo de ação de herbicidas: a resistência de biótipos aos herbicidas inibidores da síntese de aminoácidos ramificados se dá em razão do seu intenso uso e também à elevada capacidade de dispersão do picão-preto. De acordo com estudos, o manejo convencional com aração e gradagem, seguido da aplicação de herbicidas, é o principal meio de propagação e manutenção do banco de sementes da planta daninha;
Plantio direto: o plantio direto é uma prática que envolve menor revolvimento do solo, diminuindo a multiplicação dos propágulos reprodutivos do picão-preto;
Saturação (encharcamento) do solo: também reduz a multiplicação dos propágulos reprodutivos do picão-preto;
Aplicação adequada de nutrientes essenciais: algumas práticas, como o uso indiscriminado de fertilizantes e o incremento do fornecimento de fósforo, sem que haja o manejo adequado das espécies, pode favorecer a planta daninha em detrimento da cultura plantada. Dessa maneira, é necessário que haja a aplicação adequada de nutrientes essenciais para a conservação do equilíbrio das infestações;
Sistema de irrigação correto e épocas alternadas de plantio: o uso de sistema de irrigação correto e épocas alternadas de plantio das culturas agrícolas (entre elas, o cultivo extemporâneo) também pode ajudar a aumentar a capacidade de competição da cultura de interesse em detrimento das plantas daninhas;
Uso de cultivares com maior eficiência fotossintética: conforme mencionamos anteriormente, o picão-preto é uma planta que apresenta germinação independente das condições de luz do ambiente. No entanto, ela não é eficiente quanto ao acúmulo de matéria seca e uso eficiente da radiação, ou seja, apesar de sua alta capacidade de extração de nutrientes e água do solo, a sua aptidão em conversão de radiação solar em massa vegetal nem sempre será proporcional. Dessa forma, o uso de cultivares com maior eficiência fotossintética pode aumentar a capacidade competitiva da cultura.
Além dessas práticas, é importante ter conhecimento do histórico de resistência da planta daninha na área de cultivo, realizar um controle rigoroso no período da entressafra, além de manter a limpeza do maquinário a fim de não propagar as sementes de picão-preto para novas áreas da lavoura.
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Uso medicinal e farmacologia do picão-preto
No entanto, apesar de ser considerada uma planta daninha na agricultura, o picão-preto é uma espécie vegetal de elevado valor medicinal com propriedades farmacêuticas, possuindo propriedades medicinais que têm sido amplamente reconhecidas e utilizadas em áreas como fitoterapia e farmacologia.
O picão-preto, apesar de ser considerada uma planta daninha, apresenta propriedades medicinais.
O gênero Bidens é utilizado em todo o mundo para o tratamento de doenças, mas o destaque no Brasil fica por conta da Bidens pilosa. Na medicina popular, a planta é utilizada para o tratamento de diversos desconfortos e enfermidades, inclusive inflamações, tumores e hepatite. Os relatos vêm de inúmeros lugares, como Cuba, México, Equador, Peru, Panamá, Colômbia, EUA, Bahamas, região Sul do Brasil e região Amazônica.
Praticamente todas as partes da planta podem ser utilizadas em preparações medicinais, desde as suas flores (para tratar desconfortos gástricos em infecções alimentares e diarreias) até as suas raízes (para tratar vermes e hepatite). No entanto, é na cutícula e nas células epidérmicas das folhas do picão-preto que estão contidos os ativos mais utilizados na medicina e fitoterapia.
De acordo com estudos químicos realizados, verificou-se que o chá do picão-preto, muito utilizado na medicina popular, é rico em quercetina e outros compostos polifenólicos, que são responsáveis pelas atividades antioxidantes observadas, além de demonstrar anticarcinogenicidade. Investigações têm demonstrado também atividades anti-hiperglicêmicas, anti-inflamatórias, antiúlceras, antitérmicas, anticancerígenas, antitumorais, antivirais, antifúngicas e antibacterianas.
Conclusão
Em conclusão, o picão-preto é uma planta daninha de alto potencial competitivo que, além de invasora, também serve de hospedeira para pragas e doenças, ocasionando perdas significativas de rendimento em produções agrícolas. No entanto, apesar de causar danos diretos e indiretos à agricultura, ela apresenta grande potencial nas áreas fitoterápicas e de farmacologia.
E então, gostou desse conteúdo? Que tal complementar a leitura e conhecer quais as plantas daninhas mais comuns na agricultura? Boa leitura!
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